Um olhar atento ao sistema privado de ensino no Brasil denuncia, ao longo da última década, uma mudança de paradigma educacional entre os adultos brasileiros. O movimento de ascensão do ensino a distância que acompanha a queda da procura por graduações presenciais acontecia gradualmente, e foi bruscamente acelerado pela pandemia de Covid-19. Agora, em 2023, o fim da pandemia já foi decretado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – mas a preferência pelo ensino superior EAD segue se fortalecendo a nível nacional. É um claro indicativo de que, para além das condições emergenciais, a parceria entre tecnologia e educação serve bem ao aluno contemporâneo. 

Dados levantados pelo Ministério da Educação atestam que mais de 500 cursos superiores presenciais foram fechados em 2022, no Brasil. Em comparação, o Censo da Educação Superior de 2021 registrou aumento de 23,3% na quantidade de novos ingressantes em graduações EAD – em um único ano. Informações divulgadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que, entre 2010 e 2020, o número de brasileiros matriculados no ensino a distância foi triplicado: das 930 mil matrículas verificadas em 2010 às 3 milhões registradas uma década depois.

Mudança no perfil do aluno

Quem trabalha no setor educacional deve sempre ter em mente que a educação é viva, orgânica, se transmuta acompanhando as necessidades e tendências de seu tempo. Gestores de IES que se mantêm presos a um conceito tradicional de ensino – cuja funcionalidade foi atestada por alunos de gerações passadas – fecham os olhos para a dinamicidade natural de um sistema educacional eficiente. Ao deixar de “falar a língua” do estudante contemporâneo, a instituição não apenas perde relevância no mercado educacional, como também negligencia seu compromisso com a qualidade da formação.

O ensino a distância desponta como solução viável às demandas de uma grande parte da população interessada no diploma de nível superior. O aluno que prioriza o curso EAD frente ao ensino presencial sente-se melhor atendido pela modalidade digital, por motivos multifatoriais. O primeiro fator a ser destacado é financeiro: as mensalidades dos cursos EAD são consideravelmente inferiores às dos cursos presenciais, possibilitando o acesso de uma nova classe socioeconômica ao ensino superior. Os brasileiros também presenciaram, nos últimos anos, um severo desmonte das políticas de incentivo à educação superior, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o que fragilizou a procura pelo ensino presencial.

Apesar do contexto emergencial, a massiva experiência com o EAD durante a pandemia evidenciou o potencial que a tecnologia oferece à ensino-aprendizagem, incentivando as instituições a investirem no aprimoramento da modalidade e de seus recursos. Muitos alunos se identificaram com a flexibilidade e a autonomia do EAD durante o isolamento social, e não têm mais interesse em retornar à dinâmica presencial. Graduações com conteúdos e metodologias desatualizadas também afastam os alunos mais jovens e desincentivam a procura pelo ensino presencial.

Hibridismo como alternativa

O ensino híbrido situa-se entre o presencial e o EAD, e desponta como alternativa promissora para o futuro da educação. Desde 2019, o Ministério da Educação lançou uma portaria que autoriza a realização de até 40% da carga horária das graduações presenciais via recursos remotos, o que facilitou a experiência das IES com a modalidade híbrida. No ensino híbrido, os graduandos desfrutam das facilidades do EAD sem abrir mão das trocas interpessoais do ensino presencial.

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