Realidade ou ilusão? Novo livro explora experiências humanas extraordinárias através da Psicologia Anomalística
26 de janeiro de 2023
Viagem para fora do corpo, experiência de quase morte, contato com fantasmas, telepatia… A trajetória humana é historicamente marcada por experiências que podem ser difíceis de serem explicadas em parâmetros científicos tradicionais. Sejam ilusões perceptuais, falhas de memória ou fenômenos reais, é impossível negar que as pessoas vivenciam uma fantástica variedade de experiências – e algumas delas desafiam o que muitos entendem por “realidade”. O livro “Psicologia anomalística: explorando experiências humanas extraordinárias” analisa os principais temas relacionados a esta recente e complexa área da Psicologia, convocando o leitor a ler o mundo por uma nova perspectiva.
O livro, mais recente trabalho dos pesquisadores Fábio Eduardo da Silva e Leonardo Breno Martins, é uma publicação da Editora Intersaberes e será lançado em janeiro de 2023. Ao longo das últimas décadas, cientistas brasileiros vêm desenvolvendo sólidas investigações sobre experiências e comportamentos anômalos; esta obra consolida tais esforços e fornece um roteiro para pesquisas e aplicações futuras. “O Brasil é considerado o segundo maior foco de pesquisa em Psicologia Anomalística do mundo, por conta do InterPsi (Laboratório de Estudos Psicossociais: crença, subjetividade, cultura & saúde) sediado em São Paulo, perdendo apenas para o Reino Unido”, ressalta Dr. Fábio da Silva, coordenador da Comissão Especial de Psicologia Anomalística e da Religião (pertencente ao Conselho Regional de Psicologia do Paraná).
Experiência anômala pelo viés da ciência
As diversas experiências extraordinárias relatadas por humanos foram, por muito tempo, delegadas aos domínios religioso e místico. A partir do século XVIII, passam a ser investigadas pelo campo científico – dando origem à parapsicologia e à psicologia anomalística. “A psicologia anomalística é um subcampo da psicologia que se dedica ao estudo de experiências ditas anômalas. A anomalia indica a lacuna do conhecimento científico, que ainda não consegue explicar alguns fenômenos. São experiências que desafiam o conhecimento científico atual; se daqui a alguns anos conseguirmos compreendê-las, deixarão de ser anomalias”, explica Dr. Fábio.
Na psicologia anomalística, existem dois enfoques principais: a experiência (aquilo que é relatado) e o fenômeno em si. O fato de perceber e relatar uma experiência já é suficiente para transformar a vida da pessoa, dado o impacto psicossocial (muitas vezes negativo) que as experiências anômalas têm peso para causar. “Independente de haver fenômeno por trás, haver a experiência já é de grande importância ao estudo. Desse ponto de vista, não é necessário ter evidências maiores do que o próprio relato. Para distinguir se não foi só uma coincidência ou uma questão de memória, partimos ao contexto experimental”, elucida o autor Fábio da Silva. Para gerar evidências científicas sobre a existência de fenômenos anômalos, os pesquisadores recorrem ao método experimental, quantitativo, na maioria dos casos em laboratório. São várias as técnicas experimentais capazes de atestar que existem, sim, anomalias matemáticas acontecendo nos experimentos – o terceiro e o quarto capítulo do livro apresentam os principais métodos de estudo e linhas de pesquisa empregados na área.
A interpretação das experiências anômalas enquanto algo sobrenatural (como acontece nas culturas e nas religiões) cria barreiras para que sejam analisadas cientificamente, visto que a ciência analisa o mundo natural, possível de medir e observar. “Experiências anômalas são eventos subjetivos que de alguma forma conflitam com o modo de ver a realidade aceito por muitas pessoas, independente da existência ou não do sobrenatural. Mediunidade, experiências de abdução por alienígenas, experiências fora do corpo são eventos subjetivos que contrastam com a forma como a cultura vê o mundo, mas não possuem relação obrigatória com patologia ou anormalidade”, define o Dr. Leonardo Breno Martins, coordenador do IlusoriaMente – Grupo de Estudos de Psicologia da Crença: Percepção e Arte Mágica (USP).
Experiências anômalas ou transtornos mentais?
A Psicologia conta com critérios próprios para distinguir um relato de experiência anômala de um diagnóstico de transtorno mental. “Esses critérios existem com base na literatura, mas infelizmente muitos psicólogos estão desinformados e acabam patologizando as pessoas por meramente citar que tiveram experiências anômalas, que falam com espíritos, ou qualquer coisa do tipo”, alerta prof. Leonardo. O autor enfatiza que o entendimento de transtorno precisa considerar muitos outros critérios para além da “esquisitice”. “Para ser patológica, a coisa tem que causar sofrimento, prejuízos no trabalho, nas relações afetivas, na forma de pensar da pessoa, porque a patologia mental desorganiza o pensamento. Se as experiências acontecem de forma muito dissonante da cultura do indivíduo, isso também sugere transtorno mental, embora não confirme diagnóstico”, pontua o especialista em psicologia social e saúde mental. O sexto capítulo do livro é dedicado ao diagnóstico diferencial entre experiências anômalas e/ou espirituais e transtornos mentais.
Diferentemente da parapsicologia, que circula mais nos institutos autônomos do que nas universidades, a psicologia anomalística já é uma área da Psicologia muito bem estabelecida nos meios acadêmicos – no Brasil e no mundo. Para bem fundamentar-se, a psicologia anomalística estabelece relação histórica com muitos outros campos da psicologia. “A psicologia social é uma das áreas onde há mais conexão, pelo estudo das crenças, das atitudes, de valores que estão muito relacionados às experiências anômalas. A psicologia da religião, a psicologia cognitiva, a própria neurociência cognitiva, pelo grande interesse em distinguir falhas de memória, ilusões perceptuais, edição de memórias. São estudos que ajudam a compreender que parte desses fenômenos são apenas experiências; o fenômeno em si está relacionado a alguma explicação cognitiva”, complementa Dr. Fábio da Silva.
Nas páginas de “Psicologia anomalística: explorando experiências humanas extraordinárias”, debate-se um tema delicado e cheio de preconceitos a fim de elucidar as diferenças entre as crenças populares e os dados científicos. “O livro tem um duplo público: profissionais e estudantes da Psicologia vão aproveitar a obra, mas a abrangência do assunto e o interesse cultural que desperta tornam o livro interessante aos não psicólogos também”, sugere Dr. Leonardo. A obra fica disponível para compra a partir do dia 20 de janeiro, nas livrarias de todo o país.
Ficha técnica
Livro: Psicologia anomalística: explorando experiências humanas extraordinárias
Autor: Fábio Eduardo da Silva e Leonardo Breno Martins
Número de páginas: 416
ISBN: 9786555170733
Formato: brochura
Dimensões: 2.1 × 14 × 21 cm
Preço: R$166,40
Editora: Intersaberes
Sobre os Autores
Fábio Eduardo da Silva é doutor e mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), com estágio de pesquisa no Consciousness Research Laboratory do Institute of Noetic Sciences, na Califórnia (Estados Unidos). É especialista em Magistério Superior e Neuropsicologia pelo IBPEX e graduado em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná. Atua como professor em cursos de pós-graduação relacionados às neurociências, à educação, à saúde mental e às organizações. Por três anos, foi coordenador de pós-graduação lato sensu de cursos referentes à neurociência aplicada no Centro Universitário Internacional (Uninter). É membro do Laboratório de Estudos Psicossociais: Crença, Subjetividade, Cultura & Saúde (InterPsi) e do Grupo de Estudos de Psicologia da Crença: Práticas Meditativas (MeditativaMente), ambos da USP, e coordenador da Comissão Especial de Psicologia Anomalística e da Religião (Cepar), pertencente ao Conselho Regional de Psicologia do Paraná. É fundador e diretor executivo do Instituto Neuropsi e desenvolve pesquisas, eventos científicos e cursos em psicologia anomalística. Também estão entre suas áreas de interesse e atuação: neuroeducação, neuroliderança, habilidades socioemocionais e felicidade (psicologia positiva), mindfulness e intuição. É autor dos livros “Neurociência e aprendizagem”, “Tomada de decisão e intuição” e “Neuroliderança e neurocaching”. Há 26 anos trabalha com grupos de treinamento interpessoal e intuitivo.
Leonardo Breno Martins tem pós-doutorado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), com estágio em pesquisa na Coventry University (Inglaterra). É doutor e mestre em Psicologia Social pela USP e graduado em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É professor colaborador no Instituto de Psicologia da USP e pesquisador e membro dos seguintes laboratórios, núcleos de pesquisa e grupos acadêmicos: Laboratório de Estudos Psicossociais: Crença, Subjetividade, Cultura & Saúde (InterPsi), Laboratório de Psicologia Social da Religião (LabPsiRel), Grupo de Estudos de Psicologia da Crença: Hipnose e Estados Alterados de Consciência (GeHip), Grupo de Estudos de Psicologia da Crença: Psicologia da Religião (Gepsirel) e Grupo de Estudos de Psicologia da Crença: Práticas Meditativas (MeditativaMente), todos da USP; e Núcleo de Estudos de Novas Religiões e Novas Espiritualidades (NEO), da PUC -SP. É coordenador do IlusoriaMente – Grupo de Estudos de Psicologia da Crença: Percepção e Arte Mágica (InterPsi – USP). Tem experiência na área de psicologia, com ênfase em psicoterapia, saúde mental e psicologia social. Suas pesquisas se inserem nas áreas de saúde mental, psicologia social, psicologia anomalística, psicologia da religião e psicologia da mágica.